terça-feira, 5 de julho de 2011

Edney Santana

A depressão



Todos nós em algum momento da vida nos sentimos sós, fragilizados e humilhados. Pouco importa que você seja rico ou pobre, branco ou negro. As leis da natureza desconhecem questões sociais.
Se a sociedade nos separa a natureza nos une de maneira definitiva e não raro o instrumento usado para isso é a dor.
Pode ser uma dor física ou emocional. Se física temos a possibilidade mais rápido de “cura”, mas se for emocional o estrago é bem maior.
Um amigo meu que sofre de depressão há anos, me pediu que fosse com ele a uma clínica especializada em tratar todos os tipos de distúrbios emocionais. Na clínica encontrei juízes, jovens professores, policiais, desempregados, estudantes e até crianças todos unidos por um drama: a depressão.
Gente que pouco a pouco foi naufragando em uma das doenças mais terríveis da nossa época: a depressão, uma doença perigosa que chega devagarzinho e se apossa da “alma”, da vida das pessoas, uma doença semântica.
Sou professor e não psicólogo, mas me arrisco a dizer, excetuando-se questões de ordem genética-patológicas, a depressão é fruto dessa nossa época de incertezas emocionais. Um tempo no qual nada tem de sentido objetivo, tudo parece fora da ordem ou do lugar e principalmente: para o deprimido é ele e não o mundo a desordem, o estado deprimido das coisas e é aí que vive e cresce o perigo.
Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde) no Brasil já se consome mais ansiolíticos que remédios para dor de cabeça. Um país que se deprime, é o que é o Brasil? Um lugar no qual os valores são invertidos, um país com cruéis índices de violência, um lugar no qual a exclusão social é quase uma instituição oficial.
O estar deprimido é um voltar-se para si mesmo sem razões para no mundo desejar o viver, o estado de vida do deprimido é a ausência de si para consigo mesmo em harmonia com um litígio perigoso com a vida. Ficar impotente diante a própria existência, tem levado cada vez mais pessoas um encontro melancólico com suas supostas impotências e consequentemente com a depressão.
Os livros mais vendidos no mundo são os livros de auto-ajuda, cresce assustadoramente o número de seitas religiosas que dizem ter a cura para nossos males “espirituais”, tenta-se curar alcoolismo e dependência de narcóticos com a Bíblia, tudo isso pode em determinado momento ter algum efeito positivo, mas pouco eficiente se as pessoas não tiverem apoio médico e psicológico.  Aqui outra tragédia: pessoas pobres deprimidas não contam com clinicas públicas, nem mesmo postos de saúde e acabam a mercê de estelionatários e curandeiros.
A depressão tem sim raízes também sociais. As desigualdades sociais cada vez mais têm fragilizado nossa capacidade de reação diante ao horror e flagelo emocional criado pela ganância, truculência nas relações de poder e ouvidos fechados para o desespero que não está em si, estamos nos silenciando diante nossas próprias desgraças.
 Quando se perde a capacidade de se emocionar de lidar com a dor, de sentir-se capaz de reagir diante as barreiras naturais ou impostas da vida, isso pode ser o começo de um despencar neste limbo terrível que é a depressão.
Tristeza não é depressão, tristeza é algo passageiro, depressão é uma dor continuada, um vazio que vai devorando a tudo, pode-se ser deprimido e viver sorrindo, aparentemente feliz. Depressão não é uma falta momentânea de animo ou preguiça, não é covardia ou medo de enfrentar a vida, depressão não é frescura: depressão é doença e como tal dever ser encarada e tratada.
A depressão pode levar alguém a se viciar em drogas, bebidas ou até mesmo em sexo, comer exageradamente, depressão pode levar ao suicídio.
A palavra “amigo” é quase tão somente um verbete no dicionário, fomos transformados em números e índices, somos cada vez mais corações ilhas, ásperos e arredios. Se nada mudar morreremos dentro dos nossos palácios de latão e zinco, dentro dos nossos carros parados no eterno engarrafamento da mediocridade que transformamos nossas vidas.
Mas somos ainda gente, e ser gente nos abre um mundo de possibilidade. Possibilidades de carinho, de amor, amizade, de paz em espírito. Buscar ajuda e informação ainda é o único caminho confiável. A depressão pode ser uma contradição do espírito, mas você pode ser contraventor na ordem estabelecida e se não no mundo, mas ou menos em sua casa fazer a vida ser bem melhor.

Contatos com o autor:
 http://cartasmentirosas.blogspot.com

Um comentário:

peer rock disse...

Realmente Ediney tens toda a razão parafraseando,um grande poeta do nosso tempo,tão e quanto tú és:
"A depressão é o Mal do Século".
Parabéns,este artigo é o raio- x das nossas mazelas de cada dia sejam elas de ordem física ,psíquica, e matafísica!Parabéns