segunda-feira, 11 de abril de 2011

Ediney Santana

"Gentileza gera gentileza"

Gentileza deveria sempre gerar gentileza, mas não é bem isso que nesses dias carregados de desconfianças e tédio acontece. Teu sorriso e solicitude para com o outro pode acabar mal, o outro pode ser um facínora que rindo vai ceifar sua vida. Tudo isso tem levado muitas pessoas ao autoexílio, por essas e outras que nenhum animal me mete mais medo quanto o animal humano.Em 17 de dezembro de 1961, na cidade de Niterói-RJ, aconteceu um grande incêndio em um circo, cerca de 500 pessoas morreram a maioria crianças. Um homem chamado José Datrino comovido com horror daqueles dias plantou no lugar em que ficava o circo um jardim e uma horta. Datrino Ficou conhecido em todo país como Profeta Gentileza. Se você um dia for ao Rio de Janeiro poderá ler os 56 painéis criados por ele os quais falam de paz, gentileza e solidariedade, os painéis ficam nos pilares do Viaduto do Caju. Gentileza, palavra simples e tão frágil quanto seu próprio significado. Basta ler os jornais para em poucos minutos termos uma radiografia de como nos tornamos ásperos e sem ética alguma, de como somos perigosíssimos, quase nada é feito sem segunda intenção, sem o conchavo entre a promiscuidade emocional e lucro porco sobre o que temos ou desejamos em detrimento a felicidade de outras pessoas. Certa vez na Direc-31 fiquei comovido com uma jovem estudante (de Saubara) adepta do Candomblé, se queixou comigo de uma coordenadora escolar que segundo ela não respeitava sua condição religiosa. Delicada e gentil, com voz terna me relatou seu drama,estava sofrendo. Sofrimento causado pela intolerância e preconceito. A gentileza daquela estudante, sua não agressão, seu amor pela religião nos ensina muito: tolerância, solicitude, compaixão, solidariedade e paz. Enfim virtudes que são essências, mas em dias de truculência sistematizada, do ter pelo ter, do poder pelo poder estão cada vez mais jogadas no submundo das relações.Dete, dona da Loja do Boticário, e seu esposo são duas pessoas que me tratam sempre com gentileza, me comove a Dete identificar em mim valores que eu mesmo duvido que os tenho. Sua palavra ganha mais peso e sinceridade por ela não precisar de mim para coisa alguma é gentileza como a do Profeta Gentileza: de coração a coração sem esperar nada em troca, esse tipo de gentileza está acabando, pouco a pouco descemos ao escuro das nossas eternas verdades decadentes e imorais. Meu pai, “Seu” Diva da Leste, um dos homens mais gentis e solidários que conheci, incapaz de um ato agressivo, diante qualquer truculência preferia o silêncio ao conflito, tirava da própria boca para aliviar a fome ou sede de qualquer pessoa, mesmo que fosse um estranho, exemplo sincero de uma alma que viveu em gentileza. Não acredito em ética discursiva ou na palavra de qualquer pessoa que não esteja na prática em alguma ação, é muito fácil ser deus e anjinho apenas na palavra. Quase todos os arautos da ordem, decência e moralidade discursiva que conheci escondiam corações criminosos. Se não roubaram, mataram, corromperam foi tão somente por não terem  oportunidade.Nos anos de 1990 um senhor de cabelos branquinhos e idade já avançada, morava na Praça da Purificação, dava aulas de música a quase cem pessoas e não cobrava nada por isso. Seu nome? “Seu” Luizinho da rádio, exemplo de gentileza, respeito à diversidade social, explosão de solidariedade e ética prática.  Suas aulas não eram só de música, eram de como juntos poderíamos cada um fazer  diferença na vida de todos, sermos bons para nós e sociáveis para com os outros. A questão não é só ser bom ou ruim, rico ou pobre, poderoso ou refém de um Estado governado por uma confraria de criminosos, a questão é: do jeito que as coisas estão logo logo o mundo será o reino das bactérias e parasitas . Somos reféns da nossa natureza autodestrutiva, nenhuma posição social ou econômica é definitiva, Desgraças podem até demorar a chegarem em um palácio ou mansão, mas chegam, chegam com a mesma força assassina que destroem um barraco, nisso a natureza é nossa aliada, iguala poderosos e fracos no mesmo beijo da morte a nos levar ao cemitério para na festa dos vermes sermos o banquete. Isto sim é justiça!..Dos três poderes da nossa república de facínoras ou não me alegra a certeza de que todos um dia vão morrer. Do vereador ao senador, do prefeito ao presidente, do juiz ao promotor um dia todos serão carne podre e sem gentileza alguma esquecimento. Contatos com o autor:

http://cartasmentirosas.blogspot.com/

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